Recentemente, estourou em público a ferrenha briga que a Marvel venceu na justiça contra um dos criadores do Motoqueiro Fantasma, Gary Friedrich A situação ficou bem complicada para a editora, que ao exigir 17 mil dólares do escritor por vender material não autorizado em convenções, caiu em quase unânime desaprovação da comunidade de artistas e criadores de quadrinhos no mundo, muitos deles que sempre recorreram a esta pratica de vender comissões em algum momento da sua vida. Vilanizada nos últimos dias, chegou a vez da Casa das Idéias responder as críticas.
Em entrevista ao Comic Book Resource, Joe Quesada e Dan Buckley, respectivamente Diretor Criativo da Marvel e Publicitário, resolveram servir de representantes da empresa na questão. Confira a seguir, resumidamente, os depoimentos deles durante a entrevista.
Sobre a disponibilidade de Joe e Dan em explicar publicamente os fatos:
Joe Quesada: Primeiro, obrigado por nos conceder a oportunidade de falar um pouco sobre essa difícil situação que envolveu todo mundo. Eu e Dan queremos simplesmente clarificar algumas coisas da melhor maneira possível. Tem muito mal entendido aí. É muito mais fácil colocar a situação de um jeito como “a batalha de Davi e Golias”, mas tudo é muito mais complicado do que parece.
Dan Buckley: Um dos grandes problemas com a discussão e tentar explicar isso é que, paralelo a todos os rumores falsos ou não, há um processo rolando, e por causa disto, não vamos poder dizer tudo publicamente. Alguns vão realmente perceber nossa incapacidade de ser mais cândidos demonstrar um comportamento respeitoso diante do caso, mas infelizmente é o máximo que podemos fazer agora.
Sobre o fato da Marvel pedir um montante de dinheiro a um criador que para a empresa é um valor irrisório, mas para Gary é estupendamente alto:
Quesada: Vamos colocar tudo num contexto histórico primeiro para entender melhor a questão. Tudo começou em 2007, quando Gary decidiu processar a Marvel, como sendo único criador do personagem Motoqueiro Fantasma e que a Marvel estaria infringindo seus direitos. A justiça federal deu causa ganha pra Marvel. E recentemente, os advogados de Gary falaram publicamente que estariam ainda dispostos a apelar essa perdar. E essa bola voltou para a corte de novo.
Agora, a história parece seguir um rumo todo novo. Primeiro, a Marvel não se resolveu com o Gary. Isso foi mal compreendido como se houvesse um acordo, mas é um documento que tanto os lados da Marvel e do Gary concordaram em aceitar por hora. O documento basicamente terminaria com seu processo contra a Marvel na corte e a Marvel teria saído como vencedora da causa. Contudo, com o que Gary tinha ganho até então vendendo merchandise não licenciado de Johnny Blaze/Motoqueiro Fantasma nas convenções, depois que o tribunal decidiu que a Marvel é a proprietária legal do direito autoral, foi possível que ele arrumasse mais dinheiro para que os advogados dele apresentassem o seu apelo agora ao invés dele realizar seu litigio mais pra frente. Isso não é de forma algum uma “punição” pra Gary. É algo que a corte já havia pedido para ambas as partes e elas já tinham concordado. E isso é apenas mais um passo do mesmo processo legal que começamos desde 2007.
Agora, a história parece seguir um rumo todo novo. Primeiro, a Marvel não se resolveu com o Gary. Isso foi mal compreendido como se houvesse um acordo, mas é um documento que tanto os lados da Marvel e do Gary concordaram em aceitar por hora. O documento basicamente terminaria com seu processo contra a Marvel na corte e a Marvel teria saído como vencedora da causa. Contudo, com o que Gary tinha ganho até então vendendo merchandise não licenciado de Johnny Blaze/Motoqueiro Fantasma nas convenções, depois que o tribunal decidiu que a Marvel é a proprietária legal do direito autoral, foi possível que ele arrumasse mais dinheiro para que os advogados dele apresentassem o seu apelo agora ao invés dele realizar seu litigio mais pra frente. Isso não é de forma algum uma “punição” pra Gary. É algo que a corte já havia pedido para ambas as partes e elas já tinham concordado. E isso é apenas mais um passo do mesmo processo legal que começamos desde 2007.
Buckley: Vamos clarificar também outro rumor de que a Marvel estava impedindo Gary de se promover como associado criativo do Motoqueiro Fantasma. Não é uma verdade. O documento que o Joe citou especificou antes dá sim direito ao Gary de assinar livros autorizados do Motoqueiro Fantasma, fazer merchandising e vender sim seus autógrafos.
Sobre quem seriam de fato os criadores do Motoqueiro Fantasma:
Quesada: Da parte da Marvel, posso dizer que absolutamente concordamos que Gary deu uma significante contribuição pra criar Johnny Blaze/Ghost Rider. Isso nunca foi contestado por nós. Mas não foi Gary quem fez tudo sozinho. Mike Ploog, o artista original, é co-criador. Outras pessoas também contribuíram também, como Roy Thomas e Stan Lee. Havia muitos envolvidos na criação de Johnny Blaze naquele tempo e isso entra em desacordo com a defesa de Gary de ser o único criador. E fiquem atentos, pois a Marvel já tinha um personagem Western chamado “Cavaleiro Fantasma/Ghost Rider” antes.
Sobre como ficará os créditos no próximo filme:
Quesada: Com o processo correndo, infelizmente já é tarde demais para definir como ficariam os créditos. Também é cedo pra saber se isso pode mudar quando o filme for lançado em DVD e Blu-Ray. Sinceramente, queria ter uma resposta melhor para dar, mas não tenho. Espero que entendam.
Sobre Como ficam as questões de vendas de materiais assinados e comissões nas convenções a partir de agora para a Marvel, principalmente considerando que Joe Quesada faz parte como membro ativo da Hero Initiative, instituição que tende a promover em determinado tempo a venda de materiais do tipo para colecionadores afim de arrecadar dinheiro para artistas em necessidade:
Quesada: Todo mundo sabe que eu sou profundamente envolvido na Hero Initiative desde sua criação. E mesmo sendo o “chefe criativo” da Marvel agora, nunca estaria me colocando no caminho de uma ajuda financeira para um amigo em necessidade e não me envolverei nas decisões que a Hero Initiative tomar. E digo mais, quando tudo isso estourou, eu fui perguntar ao presidente atual da ONG, Jim McLauchlin, se ele tinha conhecimento se Gary estava precisando de alguma ajuda. E ele disse que até então, Gary nunca requisitou nenhuma ajuda. No meu entendimento, Hero esteve ciente de tudo que aconteceu.
Buckley: Vamos adicionar aqui que a Marvel sempre apoiou a Hero Initiative até hoje. Se os fãs estiverem em busca de contribuir de alguma forma com os criadores da mídia eu eles amam, nós apoiamos para que dêem essa ajuda a Hero Initiative.
E como ficará as questões das comissões e vendas de material feita por artistas durante as convenções de quadrinhos que ocorrem por todo o mundo?
Quesada: Deixa eu colocar de uma forma simples - a Marvel não está fazendo nenhum novo policiamento quanto a isto por conta deste único processo, um processo que já começou faz cinco anos. Temos que realmente estar cientes de que a Internet e a comunidade criativa ficou preocupada quando a Disney adquiriu a Marvel em 2009, achando que agora a Marvel não iria devolver a arte original pros seus artistas, mesmo eu sempre anunciando publicamente que era contra. E como o tempo mostrou, foi tudo infundado.
Buckley: De maneira alguma queremos interferir com os criadores nas convenções que estão sempre promovendo uma grande experiência de contatos com os fãs. Queremos que os fãs conversem, interajam com os criadores que escrevem, desenham, arte-finalizam, cuidam das letras, colorem e editam suas histórias favoritas. Parte desta interação positiva é que um fã pode sair com uma lembrança ou sketch assinado de seu artista.
A única questão da entrevista dada pelo Comic Book Resource que não teve uma resposta de Joe e Dan foi sobre se a Marvel teria daqui pra frente alguma política ou responsabilidade de dar apoio a escritores e desenhistas que estão até hoje ajudando a criar os personagens de sua franquia que rende milhões de dólares no mundo todo. Por motivos do processo atual ainda não ter sido fechado, eles foram obrigados a não responder.
Sinceramente, o que acredito que estamos vendo nessas respostas do Joe e do Dan não é muito distante do que vemos em outros lugares. A parte editorial da Marvel, única que realmente possui uma “cara” pro público, acaba tendo que se prestar como mediadora de uma situação que eles sequer criaram e que sabe-se lá se um dia eles mesmo não estariam do outro lado da história. E o outro setor segue irresolutamente contra um ex-funcionário para acirradamente denter os direitos do personagem, sequer vai se preocupar com a repercussão que isso terá depois.
Já vi, em contrapartida, muita gente por aí condenando o Friedrich com idéias absurdas, inclusive como se não tivesse partido dele a principal idéia da criação do personagem, o que é algo já bem confirmado pelo próprio Roy Thomas e o Ploog em outras entrevistas. Contudo, o personagem nasceu usando a Marvel como berço e assim como todos os demais, eles pertencerão definitivamente a ela. Kirby, Simon, muitos outros em algum momento tentaram ter seus direitos, mas perderam. Seus contratos eram de fatos bem definidos na época e nada pode mudar. Contudo, a pergunta deixada sem resposta ainda soa pesada dentro do meio – De fato, porque nada é feito para garantir alguma preservação dos direitos de criação para os artistas até mesmo nos dias de hoje? Já estamos meio que cansados de ouvir as mesmas histórias de artistas em fim de carreira que foram sucesso anos atrás vivendo nos dias de hoje em extrema carência e dependendo humildemente de ONGs de apoio. Pra mim, de fato, algo está ainda muito errado e precisa mudar.
Quanto a questão das vendas das comissões, de fato, é um vespeiro que deve-se tomar cuidado ao assumir algum partido. É verdade que todo artista iniciante ganha boa parte de sua renda com isso, mas também todos são cientes de que isso sempre foi algo marginal, onde a Marvel faz vista grossa, pois legalmente eles nunca tiveram direitos de lucro sobre os personagens que saem dessas comissões. E um bom observador notará que Quesada e Dan foram realmente muito esquivos ao responder a questão, estimulando a interação entre fã e artista ao receber imagens exclusivas e autógrafos, mas em momento algum disseram que elas deveriam ser cobradas.
No final das contas, sem definir a razão para qualquer lado, o caso "Frierich" levantou um ponto forte que até hoje é mal resolvido sobre os direitos autorais e de criação. E isso toca profundamente qualquer um em toda indústria. No fim, que toda essa discussão sirva para que novas idéias surjam quanto a este problema no futuro.
Coveiro