Artistas brasileiros não são raridade nas HQs de super-heróis das maiores empresas de quadrinhos da atualidade. Inclusive da Marvel. Contudo, há anos um nome já se destacava em títulos de ponta. Unindo qualidade quase indiscutível e um estilo marcante, um paraibano se destaca, ainda hoje, como um dos principais representantes brasileiros no mundo dos quadrinhos. Começando em pequenas editoras, despontou para não mais sair de grandes trabalhos. É com honra e muito orgulho que voltamos com nossa seção de entrevistas com ninguém menos que Mike Deodato Junior.
Olá, Deodato! Antes de mais nada, gostaríamos de agradecer por nos conceder um pouco do seu tempo e aceitar nosso convite. Vamos tentar nos conter e não exagerar no número de perguntas, apesar das muitas curiosidades sobre seu trabalho.
Deodato: Sem problema, podem mandar brasa.:)
Cammy: Para começar, fale um pouco do comecinho da sua carreira. Seus primeiros trabalhos e como chegaram as propostas para as grandes editoras de quadrinhos como Marvel e DC?
Deodato: Bom, comecei fazendo fanzines na década de 80, depois ralei por dez anos tentando viver de quadrinho no Brasil. Até que em 91 recebi uma proposta de fazer Santa Claws para editora americana Malibu. Daí passei um bom tempo ralando em editoras pequenas americanas, até que ouvi falar que a DC estava sem um desenhista pra Wonder Woman. Fiz duas páginas de amostra e fui contratado na hora. Daí em diante a coisa engrenou de vez.
Wonder Woman, por Mike Deodato Jr
Coveiro: Você e muitos outros artistas brasileiros começaram numa época bem peculiar, quando a Marvel perdeu grandes nomes da Indústria e a Image nasceu. Assim, vocês assumiram alguns carros-chefes como X-men, Hulk e outros títulos. Que tipos de pressões, em termos de prazo ou evolução criativa, vocês sofriam?
Deodato: Do jeito que você pergunta, fica a impressão de que o artista Brasileiro só conseguiu trabalho por que a Marvel tinha perdido grandes nomes, e assim "sobrou" espaço, o que não é verdade. Conseguimos nosso espaço por causa de nosso talento e profissionalismo. Não posso falar pelos outros quanto à pressão, mas era a mesma de sempre: em quadrinho você tem que fazer uma revista por mês, no mínimo. São 22 páginas por mês, mais a capa. E com qualidade. Eu, como era mais jovem e cheio de energia, cheguei a fazer 4 títulos por mês, o que terminou sendo ruim para minha arte no final.
Eddie: Você já trabalhou tanto para a Marvel como para a DC. Quais são as diferenças básicas entre as duas maiores editoras de HQs? Quais as vantagens e desvantagens?
Deodato: Acho a Marvel mais solta, e a DC mais burocrática. A impressão que tenho é de que a Marvel toma decisões mais rápido e baseadas primordialmente nas opiniões do artista e do escritor, enquanto que a DC dá prioridade às suas propriedades, os personagens. Mas enfim, é só minha opinião.
Capa de Wolverine: Origins #28, título atual de Deodato na Marvel
Coveiro: Vou levantar uma questão polêmica, que recentemente foi requentada em fóruns e sites especializados. Sabe-se que, nos anos 90, alguns desenhistas brasileiros menos conhecidos acabaram tendo seus trabalhos publicados com assinaturas de nomes já consagrados. É um assunto bastante criticado, mas que poucas pessoas acabam sabendo de fato como e porquê isso aconteceu. Seria possível você nos falar um pouco sobre isso e esclarecer essa questão?
Deodato: Havia uma demanda enorme por trabalhos meus, e alguns desenhistas brasileiros sem trabalho suficiente. Então meu agente teve a idéia de fazermos um estúdio para atender esta demanda. As histórias deveriam ser creditadas como Deodato Studio (porque segundo os editores isto atrairia mais leitores), e seriam também creditados os artistas que trabalharam na história que estivesse sendo publicada. Até aí tudo bem, todo mundo saía satisfeito. O problema começou quando alguns editores desonestos, com o intuito de faturar mais, não colocavam os nomes dos outros. Colocavam só meu nome, sem dizer que era o Deodato Studio, e chegaram ao cúmulo de apagar a assinatura de alguns desenhistas, colando a minha por cima.
Coveiro: O começo de sua nova fase, em que mudou um pouco o estilo de desenho, é marcada pelas histórias do Hulk por Bruce Jones, que tinha uma narrativa muito mais sombria. Foi inspirado nos roteiros dele que você decidiu desenvolver seus desenhos com um clima mais realista e obscuro? Ou você já tinha decidido modificar seu traço antes?
Deodato: Na verdade esse estilo começou a partir de uma história do Noturno que fiz para revista X-Men Unlimited.
Noturno em X-Men Unlimited v1 #32
João: Como você avalia sua evolução artística desde que entrou no mercado de quadrinhos para valer? O que modificou na sua arte, e que tipo de recursos deixou de usar mas gostaria de resgatar em algum momento?
Deodato: Basicamente aprendi mais sobre storytelling. Aprendi que devo servir à história e não o contrário. Ainda tenho muito o que aprender, e acho esse processo fascinante e instigante. Gosto de descobrir novas maneiras de trabalhar minha arte, e por isso estou constantemente estudando, tentando melhorar. No futuro gostaria de tentar algo mais solto.
Eddie: Você utiliza muitas referências fotográficas em suas histórias, coisa que muito desenhista faz. Entretanto, alguns acabam ficando com o desenho meio estático, sem muito movimento. Como você consegue usar essas referências e ainda manter ritmo nas histórias? E muitas vezes você escolhe rostos famosos para os personagens (Por exemplo, Norman Osborn como Tommy Lee Jones em Thunderbolts). De que forma você seleciona que rostos combinam com determinados personagens?
Deodato: Procuro me manter fiel à idéia original do layout que fiz para a página. Tento manter a energia que estava lá, e acho que funciona. Quanto aos atores que homenageio em minhas histórias, isso vai desde ele ou ela se parecerem com o personagem, até terem um rosto marcante em termos de expressão.
Norman "Tommy Lee Jones" Osborn em Thunderbolts #110
Coveiro: Falando em Thunderbolts, essas doze edições que você desenhou, para mim, já são clássicas, e merecem um encadernado especial por aqui. Por sinal, essa é segunda vez que você trabalha com o Ellis depois de um tempo com Thor. Foi a pedido dele que você foi chamado para o título? Como foi, para você, o retorno da parceria?
Deodato: Meu editor, Tom Brevoort me disse que foi o próprio Ellis que me solicitou para o título, o que me lisonjeou muito. Ellis é muito talentoso, e eu sempre citava nossa parceria em Thor entre os meus melhores trabalhos. Para mim, foi muito estimulante este retorno. É impressionante como uma boa história pode influenciar na qualidade do trabalho do desenhista.
A nova formação dos Thunderbolts, por Ellis & Deodato
João: Em sua opinião, como as indicações do roteirista devem ser acatadas ou interpretadas pelo ilustrador? Em outras palavras, o quanto um artista interfere no trabalho final de uma história? Quem predomina nessa relação?
Deodato: Quando eu acrescento ou retiro algo é sempre pensando em contar melhor a história que recebi do escritor. Então, em princípio, não tem essa de quem predomina, porque nós dois buscamos um mesmo objetivo. Em um número recente de Wolverine, o roteiro dizia em certo ponto que Wolverine deveria tomar a arma do bandido e atirar nos outro usando-o como escudo. Decidi acrescentar que ele tomaria a arma cortando o braço do bandido fora, pois achei que esta seria a maneira que Wolverine agiria. De qualquer maneira, sempre envio antes os meus layouts para o editor aprovar, então todos saem satisfeitos.
Eddie: Você foi o desenhista de "Pecados Pretéritos", uma das mais polêmicas histórias do Homem-Aranha (*arco referente aos filhos de Gwen Stacy e Norman Osborn). Como foi, para você, desenhar algo que obviamente causaria muito rebuliço entre os fãs? E Já aconteceu alguma vez de você desenhar uma história que, na sua opinião, não era boa?
Deodato: Se a história é boa, não sinto problema algum, por mais polêmica que seja. Já desenhei muita história ruim, e é terrível. É como nadar contra a maré. Por mais que você se esforce, sabe que não vai adiantar. Você não consegue salvar aquele desastre.
Homem-Aranha por Mike Deodato
João: De uma forma geral, o que você acha de artistas atuais da Marvel (como Leinil Yu, Humberto Ramos, Howard Chaykin) serem muitas vezes mal recebidos por alguns leitores por apresentarem desenhos bem estilizados, "fora do comum"?
Deodato: Gosto de desenhos estilizados também. Eduardo Risso, que fez uma mini de Wolverine recentemente para Marvel, para você ter uma idéia, é simplesmente brilhante. Seu domínio do claro escuro e design é de babar.
Eddie: Mark Waid disse certa vez que não teria topado escrever uma mini para o Deadpool, se soubesse o canalha que ele era. Scott Lobdell não quis escrever Elektra, pois se tratava da história de uma assassina. Você desenhou a revista mensal dela e desenhou os Thunderbolts. Como você enxerga essa questão de moralidade dentro das histórias? Afinal, os papéis de mocinho e bandido, antes tão claros, tornaram-se mais difíceis de definir nos dias de hoje?
Deodato: Eu na verdade gosto disso. Adoraria desenhar Preacher, por exemplo.. Nunca vi tanta gente ruim reunida em uma única série. :)
Coveiro: Por entrevistas passadas, chega a ser inevitável saber que você curte bastante histórias de Terror e desenhar monstros. Percebi que recentemente você acabou se encaixando em duas histórias avulsas com essas criaturas sombrias, além de capas da nova série da Marvel Zombies (ainda inéditas no Brasil). Foi sorte ou você deu um jeitinho para ser convocado para elas? Por sinal, tem algum personagem nesse estilo que você "mataria" para poder assumir um título? Werewolf by Night, por exemplo?
Deodato: Eu deixei bem claro para Marvel o que eu gostaria de fazer e fui atendido. A Marvel me trata muito bem. Já fiz lobisomens suficientes pra matar minha vontade, mas o título de terror que adoraria fazer seria um com o Homem-Coisa.
Detalhe da arte da one-shot Wolverine: Roar (ainda inédita no Brasil)
Cammy: Quando criança sua temática preferida sempre foi super-heróis quando desenhava? Você possui alguma relíquia dessas ainda guardada?
Deodato: Sempre foi, sim. Tenho todos os meus gibis antigos. Meus favoritos são os Defensores, pela Bloch.
Eddie: Falando na questão de heróis, como você enxergou a Guerra Civil, morte do Capitão América, e as eventuais mudanças na Marvel? E, afinal, de que lado o Deodato estava?
Deodato: Do lado do Capitão, claro!! :) Ainda quero desenhar ele algum dia.
João: Você trabalhou com Brian Michael Bendis no arco The Collective, em Novos Vingadores, e essa dupla será reeditada em breve. Poderia falar um pouco como é a dinâmica de trabalho com ele, que atualmente é um dos principais roteiristas da Marvel?
Deodato: Ele me ligou no dia em que aceitei fazer a revista, mas só que o sotaque dele é muito carregado, e a comunicação foi um pouco difícil. Mas por e-mail é beleza. Nos damos muito bem, ele é bem pra cima e gosta de ouvir opiniões.
Novos Vingadores: O Coletivo
Eddie: Aqui no Brasil, muitas vezes parece que só emplacam quadrinhos infantis. Você consegue visualizar super-heróis nacionais com boas vendagens ou isso seria muito fora do nosso contexto? Ainda nesse tema, que tipo de temática, além dos já citados infantis, poderiam dar certo no Brasil?
Deodato: Não acho que super-herói seja a nossa praia. Temos que buscar temas nossos. Talvez o modelo Europeu seja um melhor exemplo à ser seguido do que o Americano.
Cammy: Acha que já chegou onde sempre quis ou ainda almeja outros tipos de trabalho? Uma criação própria, por exemplo? Já considerou investir nisso no Brasil ou lá fora?
Deodato: Tenho um projeto pessoal engavetado que pretendo discutir com a Marvel da publicação em um futuro próximo.
* * *
Para terminarmos, selecionamos dez perguntas das dezenas enviadas por nossos leitores:
"Quais foram suas influências no início de sua carreira, e quais são suas influências atualmente?"
Fred Gomes – Fortaleza, Ceará
Deodato: A minha base vem de Neal Adams, Dick Giordano, Will Eisner e Frank Frazetta. Atualmente não tenho influências marcantes, mas admiro os trabalhos de muita gente, como Eduardo Risso, Frank Quitely, Mathias Schultteiss (acho que é assim que se escreve) nota do editor: Quase certo. É Schulteiss, Ivo Millazzo, Guardino e muitos outros.
Thor, por Ellis & Deodato
"Deodato, em que momento da sua carreira como desenhista de quadrinhos você começou a perceber a importância da narrativa como um elemento essencial a ser trabalhado, e que fator foi mais importante para que chegasse a essa conclusão? Além disso, quais elementos você indicaria como os principais a serem estudados pela galera que está começando, visando a formação de bons desenhistas de quadrinhos? Uma 'mini-bibliografia' seria muito bem vinda. Um abraço e sucesso!"
Vinícius Rucci – Estudante de Licenciatura em Educação Artística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e um dos organizadores da III Semana de Quadrinhos da UFRJ
Deodato: Comecei tardiamente a ter consciência plena da importância da narrativa em minha arte. Acho que foi na minha segunda temporada em Hulk que isto se cristalizou. Entre os elementos principais, eu destacaria a narrativa, a linguagem corporal e expressões faciais, e o uso de luz e sombra. Para se aprender quadrinho, recomendo os de Eisner, Mcloud e Hogart.
"Se você tivesse que escolher apenas um personagem para desenhar pelo resto da vida, qual seria e por quê?"
Julia Blunck – Niterói, Rio de Janeiro
Deodato: Hmmm, eu criaria um personagem que vivesse sendo jogado em universos diferentes, assim eu sempre teria algo novo pra desenhar e nunca ficaria entediado. :)
"Como foi desenhar a cena de canibalismo em que o Venom come o braço do Aranha de Aço? Trabalhar com personagens 'menos relevantes' no Universo Marvel, como os Thunderbolts, dá mais liberdade para a equipe criativa?"
Igor Mello – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Deodato: É bom poder desenhar algo incomum de vez em quando, e trabalhando com Ellis isso se torna uma coisa normal. O cara é um maníaco! ( risos ) Prefiro trabalhar com personagens mais relevantes, porque são os que eu cresci lendo e admirando, mas também gosto de um desafio, e fazer personagens menos relevantes parecerem maiores do que são também me estimula.
"Como foi trabalhar com um dos artistas mais polêmicos da Indústria dos Quadrinhos, Rob Liefeld, desenhando a heroína Glory?? Como foi fazer parte da revolução que foi a Image naquela época?? Abraço de um grande e antigo fã".
Daniel Bandana – Marília, São Paulo
Deodato: Aquela época foi muito divertida, porque estava finalmente vivendo daquilo que mais gostava, e desenhando personagens diferentes e estimulantes. No final, tive que processar o rapaz "pôlemico" para tentar receber o que ele me devia, mas isso não tira o gosto bom daqueles tempos.
Capa de Glory #2
"Vi que você utilizou uma referência do Brasil numa HQ (Jô Soares, na edição 110 dos Thunderbolts). Existe alguma restrição da Marvel quanto ao uso dessas pequenas referências ao Brasil, ou eles vêem como uma forma de interação com leitores de outra parte do mundo?"
Fábio Campos (Colaborador do site) – Sorocaba, São Paulo
Deodato: Eles na verdade não apoiam esta prática, pois têm medo de algum processo pela frente, então recomendam cautela. De minha parte, eu faço isto como uma homenagem.
"Jô Soares" em Thunderbolts #110
"Deodato, quando seu contrato com a Marvel terminar, você aceitaria voltar a trabalhar na DC? Com quais personagem e roteirista você gostaria de trabalhar?"
Denis Pilloto (Colaborador do site) – São Caetano do Sul, São Paulo
Deodato: Como estou muito bem na Marvel, é bem provável que volte a assinar com eles. Mas só vou começar a negociar meu novo contrato no próximo ano, então vai depender das propostas que vou receber de ambos. Na DC gostaria de desenhar Batman, Superman, Wonder- Woman, Preacher e Monstro do Pântano. Os roteiros podiam ficar com Miller, Gaiman, Morrison, Ennis ou Jones. Turminha fraca essa, hein. :)
"Primeiro de tudo, meus parabéns por se manter fiel ao seu trabalho, deixando seu traço característico como uma marca registrada por onde quer que passe. Gostaria de saber o que mudou para melhor, e pior, em sua relação de trabalho com a indústria americana de quadrinhos, desde que começou até os dias de hoje."
Jeferson Vasconcellos (Colaborador do site) – Cabo Frio, Rio de Janeiro
Deodato: Para melhor foi o fato de eu aprender inglês e passar a tomar conta de minha própria carreira, ao invés de deixar isso para meus agentes. Fez uma enorme diferença. Para pior, acho que nada. Aquele sentimento de quando a gente começa faz falta, mas é como a própria juventude, é uma coisa que só acontece uma vez e é pra ser guardado como uma boa lembrança.
"Levando em consideração que alguns desenhistas recebem carta branca para criar artes conceituais e modificar a aparência de personagens clássicos das editoras, como aconteceu com os uniformes do Homem-Aranha, visual do Luke Cage, etc, se você pudesse fazer um upgrade na aparência dos personagens da Marvel e/ou da DC, quais seriam os personagens e quais seriam as modificações?"
Adams Rebouças – autor dos quadrinhos online gratuitos "MutunaZ" – Fortaleza, Ceará
Deodato: Rapaz, eu não mexeria em nenhum. Sou muito ruim pra criar uniforme. Deixaria essa tarefa pra gente mais competente que eu. :)
Deodato faz uma Mulher-Hulk "clássica" na capa de She-Hulk v2 #23
"Comparado a outros países, o Brasil consome quadrinhos em menor quantidade. Isso, a seu ver, seria por questões culturais e falta de incentivo à leitura e arte, ou ao valor salgado desse material no mercado? Você acha que seria possível uma expansão futura do mercado nacional, de maneira que um autor pudesse viver exclusivamente de seu trabalho autoral, talvez até mesmo exportando esse material?"
Márcio Lacerda – Vila Velha, Espírito Santo
Deodato: Gostaria saber, Márcio. Eu mesmo tentei viver de quadrinhos no Brasil por dez anos, sem conseguir... Talvez criadores que tiveram sucesso nisto, como Maurício de Souza ou Ziraldo tenham a resposta.
* * *
Bem, Deodato, chegamos ao final da nossa entrevista. Mais uma vez muitíssimo obrigado pela sua disposição em responder a todas as nossas questões. Acho que é desnecessário dizer o quanto admiramos seu trabalho, e ficamos honrados de ter a oportunidade de trocar idéias com um dos grandes nomes da indústria de quadrinhos. Desejamos muito sucesso em seus novos trabalhos em 2009.
Deodato: O prazer foi meu, pessoal. Sucesso para vocês também!
Gostaríamos de agradecer ao Mike Deodato Jr. (e ao contato fornecido pelo Janúncio Neto, do Estúdio Made in PB) por conceder o privilégio dessa entrevista, na qual demonstrou algumas de suas curiosidades como desenhista, em respostas francas (até mesmo com assuntos polêmicos), esclarecedoras e divertidas. Esperamos que os leitores do 616 tenham gostado. Em breve, não deixem de conferir novidades sobre os trabalhos do Deodato, ainda inéditos nos EUA, aqui mesmo no site. Um grande abraço a todos, e até a próxima.
Editores 616
Olá, Deodato! Antes de mais nada, gostaríamos de agradecer por nos conceder um pouco do seu tempo e aceitar nosso convite. Vamos tentar nos conter e não exagerar no número de perguntas, apesar das muitas curiosidades sobre seu trabalho.
Deodato: Sem problema, podem mandar brasa.:)
Cammy: Para começar, fale um pouco do comecinho da sua carreira. Seus primeiros trabalhos e como chegaram as propostas para as grandes editoras de quadrinhos como Marvel e DC?
Deodato: Bom, comecei fazendo fanzines na década de 80, depois ralei por dez anos tentando viver de quadrinho no Brasil. Até que em 91 recebi uma proposta de fazer Santa Claws para editora americana Malibu. Daí passei um bom tempo ralando em editoras pequenas americanas, até que ouvi falar que a DC estava sem um desenhista pra Wonder Woman. Fiz duas páginas de amostra e fui contratado na hora. Daí em diante a coisa engrenou de vez.
Wonder Woman, por Mike Deodato Jr
Coveiro: Você e muitos outros artistas brasileiros começaram numa época bem peculiar, quando a Marvel perdeu grandes nomes da Indústria e a Image nasceu. Assim, vocês assumiram alguns carros-chefes como X-men, Hulk e outros títulos. Que tipos de pressões, em termos de prazo ou evolução criativa, vocês sofriam?
Deodato: Do jeito que você pergunta, fica a impressão de que o artista Brasileiro só conseguiu trabalho por que a Marvel tinha perdido grandes nomes, e assim "sobrou" espaço, o que não é verdade. Conseguimos nosso espaço por causa de nosso talento e profissionalismo. Não posso falar pelos outros quanto à pressão, mas era a mesma de sempre: em quadrinho você tem que fazer uma revista por mês, no mínimo. São 22 páginas por mês, mais a capa. E com qualidade. Eu, como era mais jovem e cheio de energia, cheguei a fazer 4 títulos por mês, o que terminou sendo ruim para minha arte no final.
Eddie: Você já trabalhou tanto para a Marvel como para a DC. Quais são as diferenças básicas entre as duas maiores editoras de HQs? Quais as vantagens e desvantagens?
Deodato: Acho a Marvel mais solta, e a DC mais burocrática. A impressão que tenho é de que a Marvel toma decisões mais rápido e baseadas primordialmente nas opiniões do artista e do escritor, enquanto que a DC dá prioridade às suas propriedades, os personagens. Mas enfim, é só minha opinião.
Capa de Wolverine: Origins #28, título atual de Deodato na Marvel
Coveiro: Vou levantar uma questão polêmica, que recentemente foi requentada em fóruns e sites especializados. Sabe-se que, nos anos 90, alguns desenhistas brasileiros menos conhecidos acabaram tendo seus trabalhos publicados com assinaturas de nomes já consagrados. É um assunto bastante criticado, mas que poucas pessoas acabam sabendo de fato como e porquê isso aconteceu. Seria possível você nos falar um pouco sobre isso e esclarecer essa questão?
Deodato: Havia uma demanda enorme por trabalhos meus, e alguns desenhistas brasileiros sem trabalho suficiente. Então meu agente teve a idéia de fazermos um estúdio para atender esta demanda. As histórias deveriam ser creditadas como Deodato Studio (porque segundo os editores isto atrairia mais leitores), e seriam também creditados os artistas que trabalharam na história que estivesse sendo publicada. Até aí tudo bem, todo mundo saía satisfeito. O problema começou quando alguns editores desonestos, com o intuito de faturar mais, não colocavam os nomes dos outros. Colocavam só meu nome, sem dizer que era o Deodato Studio, e chegaram ao cúmulo de apagar a assinatura de alguns desenhistas, colando a minha por cima.
Coveiro: O começo de sua nova fase, em que mudou um pouco o estilo de desenho, é marcada pelas histórias do Hulk por Bruce Jones, que tinha uma narrativa muito mais sombria. Foi inspirado nos roteiros dele que você decidiu desenvolver seus desenhos com um clima mais realista e obscuro? Ou você já tinha decidido modificar seu traço antes?
Deodato: Na verdade esse estilo começou a partir de uma história do Noturno que fiz para revista X-Men Unlimited.
Noturno em X-Men Unlimited v1 #32
João: Como você avalia sua evolução artística desde que entrou no mercado de quadrinhos para valer? O que modificou na sua arte, e que tipo de recursos deixou de usar mas gostaria de resgatar em algum momento?
Deodato: Basicamente aprendi mais sobre storytelling. Aprendi que devo servir à história e não o contrário. Ainda tenho muito o que aprender, e acho esse processo fascinante e instigante. Gosto de descobrir novas maneiras de trabalhar minha arte, e por isso estou constantemente estudando, tentando melhorar. No futuro gostaria de tentar algo mais solto.
Eddie: Você utiliza muitas referências fotográficas em suas histórias, coisa que muito desenhista faz. Entretanto, alguns acabam ficando com o desenho meio estático, sem muito movimento. Como você consegue usar essas referências e ainda manter ritmo nas histórias? E muitas vezes você escolhe rostos famosos para os personagens (Por exemplo, Norman Osborn como Tommy Lee Jones em Thunderbolts). De que forma você seleciona que rostos combinam com determinados personagens?
Deodato: Procuro me manter fiel à idéia original do layout que fiz para a página. Tento manter a energia que estava lá, e acho que funciona. Quanto aos atores que homenageio em minhas histórias, isso vai desde ele ou ela se parecerem com o personagem, até terem um rosto marcante em termos de expressão.
Norman "Tommy Lee Jones" Osborn em Thunderbolts #110
Coveiro: Falando em Thunderbolts, essas doze edições que você desenhou, para mim, já são clássicas, e merecem um encadernado especial por aqui. Por sinal, essa é segunda vez que você trabalha com o Ellis depois de um tempo com Thor. Foi a pedido dele que você foi chamado para o título? Como foi, para você, o retorno da parceria?
Deodato: Meu editor, Tom Brevoort me disse que foi o próprio Ellis que me solicitou para o título, o que me lisonjeou muito. Ellis é muito talentoso, e eu sempre citava nossa parceria em Thor entre os meus melhores trabalhos. Para mim, foi muito estimulante este retorno. É impressionante como uma boa história pode influenciar na qualidade do trabalho do desenhista.
A nova formação dos Thunderbolts, por Ellis & Deodato
João: Em sua opinião, como as indicações do roteirista devem ser acatadas ou interpretadas pelo ilustrador? Em outras palavras, o quanto um artista interfere no trabalho final de uma história? Quem predomina nessa relação?
Deodato: Quando eu acrescento ou retiro algo é sempre pensando em contar melhor a história que recebi do escritor. Então, em princípio, não tem essa de quem predomina, porque nós dois buscamos um mesmo objetivo. Em um número recente de Wolverine, o roteiro dizia em certo ponto que Wolverine deveria tomar a arma do bandido e atirar nos outro usando-o como escudo. Decidi acrescentar que ele tomaria a arma cortando o braço do bandido fora, pois achei que esta seria a maneira que Wolverine agiria. De qualquer maneira, sempre envio antes os meus layouts para o editor aprovar, então todos saem satisfeitos.
Eddie: Você foi o desenhista de "Pecados Pretéritos", uma das mais polêmicas histórias do Homem-Aranha (*arco referente aos filhos de Gwen Stacy e Norman Osborn). Como foi, para você, desenhar algo que obviamente causaria muito rebuliço entre os fãs? E Já aconteceu alguma vez de você desenhar uma história que, na sua opinião, não era boa?
Deodato: Se a história é boa, não sinto problema algum, por mais polêmica que seja. Já desenhei muita história ruim, e é terrível. É como nadar contra a maré. Por mais que você se esforce, sabe que não vai adiantar. Você não consegue salvar aquele desastre.
Homem-Aranha por Mike Deodato
João: De uma forma geral, o que você acha de artistas atuais da Marvel (como Leinil Yu, Humberto Ramos, Howard Chaykin) serem muitas vezes mal recebidos por alguns leitores por apresentarem desenhos bem estilizados, "fora do comum"?
Deodato: Gosto de desenhos estilizados também. Eduardo Risso, que fez uma mini de Wolverine recentemente para Marvel, para você ter uma idéia, é simplesmente brilhante. Seu domínio do claro escuro e design é de babar.
Eddie: Mark Waid disse certa vez que não teria topado escrever uma mini para o Deadpool, se soubesse o canalha que ele era. Scott Lobdell não quis escrever Elektra, pois se tratava da história de uma assassina. Você desenhou a revista mensal dela e desenhou os Thunderbolts. Como você enxerga essa questão de moralidade dentro das histórias? Afinal, os papéis de mocinho e bandido, antes tão claros, tornaram-se mais difíceis de definir nos dias de hoje?
Deodato: Eu na verdade gosto disso. Adoraria desenhar Preacher, por exemplo.. Nunca vi tanta gente ruim reunida em uma única série. :)
Coveiro: Por entrevistas passadas, chega a ser inevitável saber que você curte bastante histórias de Terror e desenhar monstros. Percebi que recentemente você acabou se encaixando em duas histórias avulsas com essas criaturas sombrias, além de capas da nova série da Marvel Zombies (ainda inéditas no Brasil). Foi sorte ou você deu um jeitinho para ser convocado para elas? Por sinal, tem algum personagem nesse estilo que você "mataria" para poder assumir um título? Werewolf by Night, por exemplo?
Deodato: Eu deixei bem claro para Marvel o que eu gostaria de fazer e fui atendido. A Marvel me trata muito bem. Já fiz lobisomens suficientes pra matar minha vontade, mas o título de terror que adoraria fazer seria um com o Homem-Coisa.
Detalhe da arte da one-shot Wolverine: Roar (ainda inédita no Brasil)
Cammy: Quando criança sua temática preferida sempre foi super-heróis quando desenhava? Você possui alguma relíquia dessas ainda guardada?
Deodato: Sempre foi, sim. Tenho todos os meus gibis antigos. Meus favoritos são os Defensores, pela Bloch.
Eddie: Falando na questão de heróis, como você enxergou a Guerra Civil, morte do Capitão América, e as eventuais mudanças na Marvel? E, afinal, de que lado o Deodato estava?
Deodato: Do lado do Capitão, claro!! :) Ainda quero desenhar ele algum dia.
João: Você trabalhou com Brian Michael Bendis no arco The Collective, em Novos Vingadores, e essa dupla será reeditada em breve. Poderia falar um pouco como é a dinâmica de trabalho com ele, que atualmente é um dos principais roteiristas da Marvel?
Deodato: Ele me ligou no dia em que aceitei fazer a revista, mas só que o sotaque dele é muito carregado, e a comunicação foi um pouco difícil. Mas por e-mail é beleza. Nos damos muito bem, ele é bem pra cima e gosta de ouvir opiniões.
Novos Vingadores: O Coletivo
Eddie: Aqui no Brasil, muitas vezes parece que só emplacam quadrinhos infantis. Você consegue visualizar super-heróis nacionais com boas vendagens ou isso seria muito fora do nosso contexto? Ainda nesse tema, que tipo de temática, além dos já citados infantis, poderiam dar certo no Brasil?
Deodato: Não acho que super-herói seja a nossa praia. Temos que buscar temas nossos. Talvez o modelo Europeu seja um melhor exemplo à ser seguido do que o Americano.
Cammy: Acha que já chegou onde sempre quis ou ainda almeja outros tipos de trabalho? Uma criação própria, por exemplo? Já considerou investir nisso no Brasil ou lá fora?
Deodato: Tenho um projeto pessoal engavetado que pretendo discutir com a Marvel da publicação em um futuro próximo.
Para terminarmos, selecionamos dez perguntas das dezenas enviadas por nossos leitores:
"Quais foram suas influências no início de sua carreira, e quais são suas influências atualmente?"
Fred Gomes – Fortaleza, Ceará
Deodato: A minha base vem de Neal Adams, Dick Giordano, Will Eisner e Frank Frazetta. Atualmente não tenho influências marcantes, mas admiro os trabalhos de muita gente, como Eduardo Risso, Frank Quitely, Mathias Schultteiss (acho que é assim que se escreve) nota do editor: Quase certo. É Schulteiss, Ivo Millazzo, Guardino e muitos outros.
Thor, por Ellis & Deodato
"Deodato, em que momento da sua carreira como desenhista de quadrinhos você começou a perceber a importância da narrativa como um elemento essencial a ser trabalhado, e que fator foi mais importante para que chegasse a essa conclusão? Além disso, quais elementos você indicaria como os principais a serem estudados pela galera que está começando, visando a formação de bons desenhistas de quadrinhos? Uma 'mini-bibliografia' seria muito bem vinda. Um abraço e sucesso!"
Vinícius Rucci – Estudante de Licenciatura em Educação Artística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e um dos organizadores da III Semana de Quadrinhos da UFRJ
Deodato: Comecei tardiamente a ter consciência plena da importância da narrativa em minha arte. Acho que foi na minha segunda temporada em Hulk que isto se cristalizou. Entre os elementos principais, eu destacaria a narrativa, a linguagem corporal e expressões faciais, e o uso de luz e sombra. Para se aprender quadrinho, recomendo os de Eisner, Mcloud e Hogart.
"Se você tivesse que escolher apenas um personagem para desenhar pelo resto da vida, qual seria e por quê?"
Julia Blunck – Niterói, Rio de Janeiro
Deodato: Hmmm, eu criaria um personagem que vivesse sendo jogado em universos diferentes, assim eu sempre teria algo novo pra desenhar e nunca ficaria entediado. :)
"Como foi desenhar a cena de canibalismo em que o Venom come o braço do Aranha de Aço? Trabalhar com personagens 'menos relevantes' no Universo Marvel, como os Thunderbolts, dá mais liberdade para a equipe criativa?"
Igor Mello – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Deodato: É bom poder desenhar algo incomum de vez em quando, e trabalhando com Ellis isso se torna uma coisa normal. O cara é um maníaco! ( risos ) Prefiro trabalhar com personagens mais relevantes, porque são os que eu cresci lendo e admirando, mas também gosto de um desafio, e fazer personagens menos relevantes parecerem maiores do que são também me estimula.
Venom faz um "lanchinho" em Thunderbolts #115
"Como foi trabalhar com um dos artistas mais polêmicos da Indústria dos Quadrinhos, Rob Liefeld, desenhando a heroína Glory?? Como foi fazer parte da revolução que foi a Image naquela época?? Abraço de um grande e antigo fã".
Daniel Bandana – Marília, São Paulo
Deodato: Aquela época foi muito divertida, porque estava finalmente vivendo daquilo que mais gostava, e desenhando personagens diferentes e estimulantes. No final, tive que processar o rapaz "pôlemico" para tentar receber o que ele me devia, mas isso não tira o gosto bom daqueles tempos.
Capa de Glory #2
"Vi que você utilizou uma referência do Brasil numa HQ (Jô Soares, na edição 110 dos Thunderbolts). Existe alguma restrição da Marvel quanto ao uso dessas pequenas referências ao Brasil, ou eles vêem como uma forma de interação com leitores de outra parte do mundo?"
Fábio Campos (Colaborador do site) – Sorocaba, São Paulo
Deodato: Eles na verdade não apoiam esta prática, pois têm medo de algum processo pela frente, então recomendam cautela. De minha parte, eu faço isto como uma homenagem.
"Jô Soares" em Thunderbolts #110
"Deodato, quando seu contrato com a Marvel terminar, você aceitaria voltar a trabalhar na DC? Com quais personagem e roteirista você gostaria de trabalhar?"
Denis Pilloto (Colaborador do site) – São Caetano do Sul, São Paulo
Deodato: Como estou muito bem na Marvel, é bem provável que volte a assinar com eles. Mas só vou começar a negociar meu novo contrato no próximo ano, então vai depender das propostas que vou receber de ambos. Na DC gostaria de desenhar Batman, Superman, Wonder- Woman, Preacher e Monstro do Pântano. Os roteiros podiam ficar com Miller, Gaiman, Morrison, Ennis ou Jones. Turminha fraca essa, hein. :)
"Primeiro de tudo, meus parabéns por se manter fiel ao seu trabalho, deixando seu traço característico como uma marca registrada por onde quer que passe. Gostaria de saber o que mudou para melhor, e pior, em sua relação de trabalho com a indústria americana de quadrinhos, desde que começou até os dias de hoje."
Jeferson Vasconcellos (Colaborador do site) – Cabo Frio, Rio de Janeiro
Deodato: Para melhor foi o fato de eu aprender inglês e passar a tomar conta de minha própria carreira, ao invés de deixar isso para meus agentes. Fez uma enorme diferença. Para pior, acho que nada. Aquele sentimento de quando a gente começa faz falta, mas é como a própria juventude, é uma coisa que só acontece uma vez e é pra ser guardado como uma boa lembrança.
"Levando em consideração que alguns desenhistas recebem carta branca para criar artes conceituais e modificar a aparência de personagens clássicos das editoras, como aconteceu com os uniformes do Homem-Aranha, visual do Luke Cage, etc, se você pudesse fazer um upgrade na aparência dos personagens da Marvel e/ou da DC, quais seriam os personagens e quais seriam as modificações?"
Adams Rebouças – autor dos quadrinhos online gratuitos "MutunaZ" – Fortaleza, Ceará
Deodato: Rapaz, eu não mexeria em nenhum. Sou muito ruim pra criar uniforme. Deixaria essa tarefa pra gente mais competente que eu. :)
Deodato faz uma Mulher-Hulk "clássica" na capa de She-Hulk v2 #23
"Comparado a outros países, o Brasil consome quadrinhos em menor quantidade. Isso, a seu ver, seria por questões culturais e falta de incentivo à leitura e arte, ou ao valor salgado desse material no mercado? Você acha que seria possível uma expansão futura do mercado nacional, de maneira que um autor pudesse viver exclusivamente de seu trabalho autoral, talvez até mesmo exportando esse material?"
Márcio Lacerda – Vila Velha, Espírito Santo
Deodato: Gostaria saber, Márcio. Eu mesmo tentei viver de quadrinhos no Brasil por dez anos, sem conseguir... Talvez criadores que tiveram sucesso nisto, como Maurício de Souza ou Ziraldo tenham a resposta.
Bem, Deodato, chegamos ao final da nossa entrevista. Mais uma vez muitíssimo obrigado pela sua disposição em responder a todas as nossas questões. Acho que é desnecessário dizer o quanto admiramos seu trabalho, e ficamos honrados de ter a oportunidade de trocar idéias com um dos grandes nomes da indústria de quadrinhos. Desejamos muito sucesso em seus novos trabalhos em 2009.
Deodato: O prazer foi meu, pessoal. Sucesso para vocês também!
Gostaríamos de agradecer ao Mike Deodato Jr. (e ao contato fornecido pelo Janúncio Neto, do Estúdio Made in PB) por conceder o privilégio dessa entrevista, na qual demonstrou algumas de suas curiosidades como desenhista, em respostas francas (até mesmo com assuntos polêmicos), esclarecedoras e divertidas. Esperamos que os leitores do 616 tenham gostado. Em breve, não deixem de conferir novidades sobre os trabalhos do Deodato, ainda inéditos nos EUA, aqui mesmo no site. Um grande abraço a todos, e até a próxima.
Editores 616